Quando alguém menciona “transporte verde”, os veículos elétricos (EVs) costumam ser a primeira coisa que vem à mente. Mas será que eles são realmente tão ecológicos quanto pensamos?

Ou existe mais nessa história? Este artigo analisa dados de ciclo de vida, fontes de energia e emissões reais para responder a essa pergunta cada vez mais relevante.

Compreendendo o panorama completo

Para avaliar o impacto ambiental de um EV, é preciso olhar além das emissões do escapamento — ou melhor, da ausência delas. Embora os EVs não emitam dióxido de carbono durante a condução, o processo de produção, os materiais das baterias e as fontes de eletricidade desempenham papéis cruciais em sua verdadeira pegada ecológica.

O dilema das baterias

Um dos maiores debates ambientais sobre os EVs gira em torno das baterias.

Produzir baterias de íons de lítio requer grandes quantidades de:

• lítio: extraído por meio de mineração que consome muita água;

• cobalto: em grande parte proveniente de países com baixa regulação ambiental;

• níquel e grafite: minerados com uso de máquinas movidas a combustíveis fósseis.

No entanto, essa “dívida de carbono” inicial pode ser compensada ao longo da vida útil do veículo — especialmente quando ele é carregado com eletricidade de fontes limpas.

A fonte de energia faz a diferença

Um EV é tão limpo quanto a rede elétrica que o abastece. Em regiões onde a eletricidade vem do carvão ou do gás natural, a economia de carbono proporcionada pelos EVs é significativamente menor. Mas em países como a Noruega, que depende de hidrelétricas, ou a França, que usa energia nuclear, a vantagem ambiental dos EVs é considerável.

Comparando as emissões ao longo da vida útil

Para entender a diferença real, é preciso considerar as emissões de todo o ciclo de vida, incluindo:

• extração de matérias-primas;

• fabricação;

• uso do veículo;

• descarte ou reciclagem ao final da vida útil.

Além disso, com o aumento global das fontes renováveis, as emissões associadas ao uso dos EVs devem cair ainda mais.

E a reciclagem?

Críticos dos EVs costumam apontar o problema do descarte das baterias. De fato, as baterias de íons de lítio são difíceis e caras de reciclar — mas não impossíveis. Empresas como Redwood Materials e Li-Cycle estão desenvolvendo instalações em escala comercial capazes de recuperar mais de 95% dos metais de baterias usadas.

A União Europeia e a Califórnia já implementaram leis que obrigam as montadoras a coletar e reciclar as baterias, tornando esse processo parte essencial do ecossistema dos EVs.

Poluição além do CO₂

Embora os EVs reduzam as emissões de carbono, é preciso considerar outros tipos de poluição, como:

• partículas liberadas pelo desgaste de pneus e freios;

• poluição sonora;

• consumo de água na extração de materiais para baterias.

Por outro lado, os EVs produzem menos poeira de freio, graças à frenagem regenerativa, e reduzem significativamente o ruído urbano — especialmente em áreas densamente povoadas.

Híbridos ou carros a gasolina são melhores?

Em regiões onde a geração elétrica ainda depende fortemente de combustíveis fósseis, carros a gasolina eficientes ou híbridos podem temporariamente apresentar emissões de ciclo de vida comparáveis — ou até menores — do que as dos EVs.

O impacto real

Considere o seguinte: se uma família troca um carro a gasolina por um EV e o carrega usando a eletricidade média da rede dos EUA, reduz cerca de 4,6 toneladas métricas de CO₂ por ano, segundo a EPA. Isso equivale a plantar mais de 70 árvores todos os anos. E se essa família usar painéis solares, o benefício é ainda maior.

Os EVs são realmente ecológicos?

A resposta é: sim — com contexto.

Os veículos elétricos são significativamente mais sustentáveis do que os carros a gasolina ao longo de todo o seu ciclo de vida, especialmente quando:

• são carregados com energia limpa;

• produzidos com matérias-primas obtidas de forma responsável;

• contam com estratégias de reciclagem eficazes.

Eles não estão totalmente livres de impacto ambiental, mas os dados mostram claramente que os EVs oferecem um caminho mais limpo para a mobilidade — especialmente à medida que o cenário energético global continua evoluindo.